Texto do autor inglês Simon Stephens impactou a crítica mundial ao expor toda a vulnerabilidade masculina
22/05/202408:43- atualizado às 08:45 em 22/05/2024
Depois de estrear no Rio de Janeiro, o solo Um Precipício no Mar, dirigido por Gabriel Fontes Paiva e estrelado por Ângelo Antônio, circula por várias cidades do interior paulista. As primeiras apresentações do espetáculo que recebeu indicação de melhor iluminação no Prêmio Shell de Teatro, acontecem no Centro Cultural SESI Ribeirão Preto, nos dias 27 e 28 de maio, às 20h. A circulação é possível graças ao projeto contemplado no Edital Lei Paulo Gustavo SP nº 20/2023 – Difusão Cultural.
A peça tem texto do autor inglês Simon Stephens, que tem sido bastante celebrado pela crítica mundial por esta obra ao tratar com sutileza de temas como paternidade, masculinidade e o existencialismo contemporâneo. Sem recorrer ao melodrama, o texto também toca em questões fortes, como a tragédia e reflete sobre religião, crenças, relacionamentos, família, a fotografia, passando pelos desafios e a alegria de ser pai.
A ideia de encená-lo surgiu quando Gabriel Fontes Paiva conduzia sua pesquisa sobre novas masculinidades durante a montagem de “Neste Mundo Louco, Nesta Noite Brilhante”, com o Grupo 3 de Teatro – fundado por ele em 2005, ao lado das atrizes Yara de Novaes e Débora Falabella. Um Precipício no Mar ainda conta com tradução de Pedro Brício, e trilha sonora de Luísa Maita.
“Na investigação para Neste Mundo Louco, Nesta Noite Brilhante, que tratava principalmente sobre a violência contra a mulher, fui provocado na leitura das feministas Rebecca Solnit e Virginie Despentes, a repensar o lugar do homem na sociedade patriarcal. E, na época, fui surpreendido e muito impactado pela peça ‘Sea Wall’, de Simon Stephens. Eu precisava montá-lo”.
Um Precipício no Mar é uma tragédia moderna de tirar o fôlego que começa com uma história cotidiana: o fotógrafo Alex faz uma visita a seu sogro na casa de praia dele durante um feriado, acompanhado por sua esposa e a filha pequena, como faz todos os anos.
“O texto possui uma escrita delicada, elegante e cativante ao mesmo tempo que expõe toda a vulnerabilidade masculina, como se o personagem estivesse com a caixa torácica aberta no palco. O personagem Alex aprende com o sogro que o fundo do oceano cai abruptamente por centenas de metros em um paredão, assim como é obrigado a descobrir que sua vida é mais precária do que ele imagina. Quando ela despenca, é devastador. O texto apresenta questões existenciais em forma de metáfora até o final, quando tudo ficará explicito”, reflete Paiva, que também assina a luz do trabalho ao lado de André Prado.
Sobre Simon Stephens - autor
Simon Stephens é um dramaturgo inglês contemporâneo, cujos trabalhos recentes incluem The Curious Incident of the Dog in the Night-time (2013 Olivier Award Best New Play, 2015 Tony Award Best Play), Heisenberg (2015 Off-Broadway), inúmeras adaptações, como The Threepenny Opera, do National Theatre 2016, The Seagull de Chekov (2017) e The Cherry Orchard (2014), além de On the Shore of the Wide World (2006 Olivier Award de melhor nova peça).
Stephens dirigiu o Young Writers ‘Program no Royal Court Theatre em Londres, apresentando várias peças, incluindo Motortown (2006), Country Music (2004), Herons (2001) e Bluebird (1998). Atualmente Stephens é Artistic Associate no Lyric Hammersmith Theatre em Londres, onde sua adaptação de The Seagull foi apresentada em 2017.
Sobre Gabriel Fontes Paiva - direção, luz e cenário
Dirigiu espetáculos de teatro como Neste Mundo Louco, Nesta Noite Brilhante, indicado ao Prêmio Shell de melhor texto, A Golondrina, Prêmio Shell de melhor atriz, Marte, Você^ Está Aí? e Uma Espécie de Alasca, Prêmio Questão de Crítica de melhor atriz. É diretor artístico da companhia teatral Grupo 3 de Teatro, que fundou em 2005 com as atrizes Yara de Novaes e Débora Falabella.
Também idealizou e realizou mais de 80 projetos culturais de destaque fundamentados em pesquisas e experimentações cênicas e construídos coletivamente com alguns dos principais artistas do teatro e da música da atualidade no Brasil. Concebe e dirige espetáculos musicais, como a serie Na Mira da Música Brasileira.
Atua como curador, pesquisador e editor em projetos culturais de caráter documental, histórico e pedagógico, como as mostras Murilo Rubião - O Reescritor Fantástico, Mostra Contemporânea de Arte Mineira e a publicação O Continente Negro.
Sobre Ângelo Antônio - Ator
Já atuou em mais de 30 novelas, quase 20 filmes e 10 peças teatrais, além de colecionar dezenas de prêmios nas 3 linguagens. Ângelo se mudou para São Paulo em 1984 onde começou a estudar teatro no CPT - Centro de Pesquisa Teatral de Antunes Filho. Logo após entrou na EAD - Escola de Arte Dramática - da USP, onde, com Gabriel Villela, realizou a sua primeira peça teatral chamada Aurora da Minha Vida em 1986.
Dois anos e meio depois, recebeu um convite de Ulysses Cruz para participar do grupo Boi Voador, realizando obras como Despertar da Primavera. Depois veio A Cerimônia do Adeus de Ulysses Cruz, obra vencedora do Prêmio APCA. Em 1989 destaca-se em Tamen - A Inconfidência de Paulo Afonso Grisolli, onde interpreta vários personagens, sendo classificado pela crítica carioca, como um ator moderno, com um timbre absolutamente novo no palco.
Seguiram-se Não Flor Nem Fera de Angela Barros, A Lista de Alice de Elias Andreato; monólogo indicado ao Prêmio Shell, A Prova e O Continente Negro, ambos de Aderbal Freire Filho, neste último o ator interpretou vários personagens, espetáculo elogiado pela crítica teatral Barbara Heliodora,e pelo qual o ator concorreu ao Prêmio Shell e Prêmio Contigo! de teatro.
Sobre Pedro Brício - Tradução
Pedro Brício (Rio de Janeiro, Brasil, 1972) é dramaturgo, diretor e ator. Estudou cinema na Universidade Federal Fluminense (UFF) e é mestre em Teatro pela Unirio. Cursou a Desmond Jones School of Mime, em Londres, a Scuola Internazionale dell’attore Comico, em Milão, e a École Philippe Gaulier, novamente em Londres.
Dentre as peças que escreveu, estão A incrível confeitaria do Sr. Pellica (2005), pela qual ganhou o Prêmio Shell de melhor autor; Cine-Teatro Limite (2008), pela qual ganhou o Prêmio Contigo; Me salve, musical! (2010), Breu (2012) e A Outra Cidade (2013), pela qual ganhou o Prêmio Questão de Crítica. Como diretor, encenou textos de Samuel Beckett, Edward Albee, Rafael Spregelburd, Patrícia Melo e Hilda Hilst.